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Acusado de sexismo, gramático se defende: "A língua já tava assim quando eu cheguei"

Foto do escritor: Evandro DebocharaEvandro Debochara

O maior gramático brasileiro vivo manifestou-se hoje a respeito das acusações que tem recebido de grupos ativistas

RIO DE JANEIRO (Reuters) – O imortal da Academia Brasileira de Letras Evanildo Cavalcante Bechara finalmente se pronunciou hoje a respeito das acusações que tem recebido de defender a conservação de regras consideradas sexistas, binaristas e machistas, que não serviriam a todos os seus falantes. "Affe... essas bolhas não manjam nada do bagulho. Mores, eu não tiro regras do fiofó e tampouco de lei estatal ou divindade suprema. O gramático só sai catando os usos que vão bombando na variante mais divada da língua e vai dando fav nessas formas, que só viram regras porque sambam na cara das variantes inimigas em matéria de uso e prestígio", declarou o gramático, num esforço inusitado e duvidoso em tentar falar num dialeto mais popular para se comunicar com segmentos mais jovens. Em seguida, ele procura esclarecer o modus operandi não só da língua-padrão, mas de qualquer variedade do português: "Todas as formas da língua, da mais diva à mais flopada, vivem livres e desimpedidas, do jeito que elas bem entendem. A gente só dá aquela maneirada, uma regulada na variedade mais divada pra ela não entrar na vibe de ficar mudando muito e toda hora, entende? Ninguém inventou nada... foi ela própria que entrou nessa de ficar neutralizando as coisas desse jeito, favoritando a desinência '-o' como universal e dominante. Ninguém tá negando rolê machista na língua, mas esse 'todos' que cês ficam problematizando nem é masculino... é neutro e inclusivo! rsrsrs... Falando nisso, cês tão ligado que esse gênero aí é gramatical, tem nada a ver com sexo, né? rs".

Confrontada com essas explicações, uma ativista reagiu indignada ao que alega ser uma postura cínica: "Aham... gracinhe! Para de forçar esse dialeto que tá feio! A única coisa imortal na ABL é o cinismo. Muito conveniente e confortável pra qualquer homem hétero cis lavar as mãos diante do status quo gramatical, né? Fica aí se achando a fada sensata do Português, mas passa pano no privilégio de literatos e acadêmicos machos cis brancos, que permitiu que eles mesmos escolhessem e determinassem seus usos como 'corretos'! Bechara tá nem aí pra discriminação das desinências marcadoras de gênero, que são exclusivistas e carregadas de sentidos que ferem a identidade de muites... O masculino genérico finge incluir pra, ideologicamente, excluir! Enfim, a hipocrisia acadêmica". Apesar disso, ela até admite que essas justificativas eram bem previsíveis, embora irrelevantes, já que deve ser lançada até o fim do ano, pela Companhia das Tretas, a primeiríssima edição da Gramátique Neutre de Língue Portuguese, que promete abalar as estruturas da língua, promovendo a derrubada dos morfemas patriarcais. Diante da inovação – e da provável concorrência –, Bechara reconhece que o politicamente correto pode influenciar mudanças lentas e graduais no idioma, mas faz várias ressalvas quanto àquilo que considera uma ambiciosa intervenção artificial: "Bom... a língua vive nesse rolê de variação e mudança, né? Se colar, colou. Vai que cola... Não vou criar barraco, por exemplo, se um dia 'aquile' se consagrar no lugar de 'aquele' e 'aquela', embora ache que muita gente vá acabar confundindo isso aí com o herói da Guerra de Troia ou começar a falar em 'calcanhar de pronome neutro'... também nada contra 'médique', 'autêntique' ou 'técnique', embora eu ache que, nesse caso, é mais jogo a gente esquecer logo o português e sair falando tudo em francês. No mais, só acho muita viagem desse povo imaginar que geral vai topar essa parada duma hora pra outra e sair aprendendo linguagem neutra com a mesma facilidade e boa vontade que adolescente decora letra de K-Pop", alfinetou, como faria todo bom erudito que, no fundo, quer ver preservadas a todo custo as tradições lusófonas que aprendeu e cultivou durante a vida. O projeto de lei para reconhecer a linguagem neutra – hoje empregada apenas como dialeto do internetês – como terceira língua oficial do país (a segunda é a Libras) deve ser encaminhado ao Congresso Nacional só no ano que vem, pois autories da proposta ainda estão avaliando e discutindo em qual sistema de neolinguagem – ile, elu, elo etc. – ela será redigida e entregue. Em Brasília, as inscrições para tradutores e intérpretes de Neutrês em audiências e sessões de votação do Congresso devem ser abertas em breve. Além dos profissionais de tradução, editores e revisores estão ansiosos com as potenciais oportunidades do novo nicho surgido no mercado.

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