
Segundo as lições tradicionais, depende do caráter do sujeito da oração.
Se você "toma toda cerveja", então é um sujeito nada exigente, sem critérios e que bebe QUALQUER cerveja que apareça na sua frente: "Tomo toda [marca de] cerveja, todo tipo de cerveja".
Se os outros costumam lhe dizer: "Poxa, 'cê tomou toda A cerveja!", significa que você ingere a totalidade, a bebida INTEIRA, todo O conteúdo disponível duma garrafa, de várias garrafas, ou mesmo dum engradado. Trata-se de oração cujos sujeitos mais comuns são grandes beberrões.
Se já estiver chapado e não souber qual forma usar, tente lembrar que, no sentido de tomar completamente a cerva disponível, é possível pôr "todo(a)" APÓS o substantivo:
"Antes do pagode, o Zeca já tinha tomado a cerveja toda." (Já tinha bebido o conteúdo inteirinho... de uma garrafa, ou de um engradado, ou até mesmo do bar inteiro.)
Repare, na oração acima, que esse uso de "toda" logo após "cerveja" já não é possível se o sentido for "qualquer", "cada" cerveja (salvo quando já se está trêbado).
Curiosidade
Essa distinção nem sequer era regra no português de antigamente e não tem nada a ver com lógica, sintaxe ou eufonia: é mero uso que se consagrou como tradição por estas bandas a partir do Romantismo (séc. XIX), e nem todos os gramáticos concordam com essa diferenciação explicada em tantos manuais e dicionários (o chato do Napoleão, por exemplo, só admite, antes de substantivo, o uso de todo/toda COM artigo). Já em Portugal não se faz distinção entre "todo" com artigo e sem artigo, tomando-se quase sempre "toda A cerveja" independentemente do sentido que se queira dar (inteiro ou qualquer).
A rigor, só há erro quando não se usa o artigo após um "todo(a)" que significa "inteiro(a)", "completo(a)", como dizer "Bukowski bebeu todo alambique" em vez de "Bukowski bebeu todo O alambique" (o [conteúdo do] alambique inteirinho).
Diante dessa treta, o camarada Celso Luft teve uma sacada digna de malandro boêmio: em casos de dúvida, taca logo um artigo ali no meio ("Bukowski amava todo o chope"), pois nunca há erro em, após "todo", usar artigo, que nesse contexto ou é obrigatório, ou é facultativo (por mais estranho que isso soe para quem já se acostumou a fazer essa distinção).
Fala a verdade: cê não entendeu nada, né? Não tem problema: tome toda (a) cerveja que rapidinho cê esquece esse papo! Até a próxima!
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