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Boemia gramatical (II) – regência verbal: tenho que beber ou tenho de beber?

Foto do escritor: Evandro DebocharaEvandro Debochara

Os puristas condenam “tenho QUE”, alegando que “que” não é preposição. Tradicionalmente, usava-se “ter de” em vez de “ter que” quando se desejava exprimir obrigação ou necessidade:


“Tenho de beber aquela pinga logo... senão eu piro.”


“A cerva tem de estar estupidamente gelada.”


Já o “ter que”, antigamente, só servia para relatar a existência de coisa por fazer, de coisa que ainda não foi feita, ou seja, só seria usada em casos como “Você tem muito que beber ainda para esquecer essa mulher”.



No entanto, o tempo não para... e muito menos a língua embriagada. Consagrou-se – principalmente entre escritores e poetas boêmios e alcoólatras – a forma “tenho QUE beber” mesmo com o sentido de necessidade ou obrigação. Só que o povo mais careta, como Sacconi e Napoleão, ficam de mimimi com os literatos: o primeiro até reconhece o uso de “ter que", mas prefere não mexer com isso; já o segundo não quer nem papo e na sua casa só admite o “ter de”. Frescura!



Cegalla, velho amigo de rodadas, sempre dizia não ver erro em “ter que" nas frases que os caretas só usam e aceitam “ter de”, pois tal sintaxe já se incorporou ao português de hoje; outro companheiro de manguaça, Celso Luft, concordava com isso e reforçava a dose: “Hoje, ao menos no Brasil, ter QUE não só é sinônimo de ter DE, mas praticamente seu substituto. Ter DE, arcaizante, é quase afetado, restrito à escrita formal”. E quem se preocupará com formalidades quando TEM QUE tomar umas, não é mesmo?


Todavia, se você curte um “ter de”, só fica ligado pra não usá-lo em frases em que o “que” é pronome relativo:



“Putz... Geladeira vazia! Nada temos que beber aqui em casa.”


“Cê ainda tem muuuuito que beber pra esquecer essa mulher...”


“Acabamos com o estoque. Nada mais tínhamos que beber naquele boteco.”


RESUMINDO: Napoleão Mendes de Almeida, gramático careta e abstêmio, condena o uso de “ter que”; Sacconi até reconhece o uso indiferente de uma forma e outra, mas é meio quadrado e aconselha o “ter de” quando há ideia de necessidade; já Cegalla e Luft liberam geral e dizem que tanto faz se você “tem de beber” ou “tem que beber”, desde que realmente beba e seja feliz.


Por falar nisso, temos que beber! Até a próxima!


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Sempre com moderação, bebamos!

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