
BRASÍLIA (Reuters) – Em sua posse como ministro da Segurança Culta nesta terça-feira (27), Raul Jungmann (PPS) apontou o uso desenfreado de variantes linguísticas estigmatizadas como um dos grandes atentados à norma culta que culminaram com a intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. “Me impressiona o Rio de Janeiro, onde vejo concurseiros, durante o dia, clamarem por correção gramatical, e à noite financiarem o crime organizado graças a seus vícios de linguagem”, criticou em seu discurso.
Jungmann elencou o combate aos crimes de lesa-gramática como uma de suas prioridades e lamentou o fato de a literatura continuar, nas palavras dele, servindo de 'home office' do crime organizado. “Desde o Modernismo vem surgindo, dentro da própria literatura, quadrilhas de escritores que nos aterrorizam e alimentam vícios de linguagem que contaminam a língua portuguesa, inclusive dentro das escolas”.
Acusado de preconceito desde que ocupava a pasta da Defesa, Jungmann se defende, dizendo ser apenas contra a miscigenação: “A norma é clara: dialetos viciados não devem se misturar com a forma correta da língua”. E complementa: “Isso não é nenhuma discriminação contra as variantes. Nada contra elas, mas, sim, contra os abusos que fazem delas em ambientes cultos. Até admitimos ‘ir/chegar NO morro' em vez de ‘ir/chegar AO morro’; ‘assistir O tiroteio’, com transitividade direta, em vez da forma prevista, ‘assistir AO tiroteio’; ‘esse' no lugar de ‘este' e vice-versa; mas ‘nós entra nas favela’, ‘os parça toca os funk' e ‘esses militar é mó parada’ já é baderna. Teremos tolerância zero contra esses abusos”.
No novo cargo, Raul Jungmann vai comandar também o ABL Responde e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), antes de responsabilidade da Academia Brasileira de Letras. Ele disse que o objetivo do seu ministério é fazer com que a União “reforce e aumente a correção gramatical” – atribuição constitucional de professores e revisores de texto – e promova a preservação da norma-padrão, "tal como prescrita por Napoleão Mendes de Almeida em sua Gramática Metódica".
Opositores ao atual governo, os membros da comunidade L.G.B.T. (Linguistas e Gramáticos Brasileiros contra Temer), conhecidos como fervorosos defensores das variantes linguísticas estigmatizadas, protestaram contra a arbitrariedade do ministro recém-empossado, apontando inclusive contradições em seu discurso de posse. Segundo o sociolinguista Marcos Bagno, "é divertido ver um purista implacável cometendo os 'erros' que tanto condena. Lembra o discurso do seu presidente, admirado pelas mesóclises, mas cheio de erros de concordância verbal e nominal. Eles defendem uma gramática que nem sequer conhecem", ironizou.
No mesmo dia em que Jungmann tomou posse, moradores do Rio de Janeiro disseram ter flagrado militares das Forças Armadas pronunciando variantes de uso exclusivo de traficantes. O ministro já declarou que vai apurar a denúncia.
Comments