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Movimentos nativo-linguísticos: a Revolta da Chachaça (1660-1661)

Foto do escritor: Evandro DebocharaEvandro Debochara
“A Renúncia de Ser Rei – Aclamação de Amador Bueno”, de Oscar Pereira da Silva (1931) – MASP

A Revolta da Cachaça (Rio de Janeiro, 1660–1661) foi o primeiro grande conflito etimológico da história do Brasil. Embora a aguardente extraída das borras do melaço da cana-de-açúcar tenha sido concebida em engenho no Brasil no século XVI, seu nome foi motivo de disputa entre brasileiros, africanos, portugueses e espanhóis.


Enquanto colonos portugueses e brasileiros afirmavam ter criado não só a bebida como também seu nome, os espanhóis replicavam que a palavra em português vinha do castelhano cachaza, originalmente usado para nomear um tipo de vinho, e os africanos escravizados alegavam que tanto portugueses quanto espanhóis haviam herdado o étimo de línguas bantas (quimbundo ka'sasu, kisungu; congo kisasa). Já a Coroa Portuguesa, cujo monopólio se estendia até sobre o vocabulário das colônias, não quis discutir etimologia e se apropriou do nome, gerando a revolta de cachaceiros de várias nacionalidades.


A metrópole silenciou os revoltosos, mas a discórdia continuou, atravessando séculos: alguns dicionaristas registraram o vocábulo como brasileirismo; outros, amparados na literatura clássica portuguesa, abonaram-no como lusismo; filólogos espanhóis apontaram sua origem em documentos históricos da Espanha do século XVI, enquanto africanistas reivindicaram o étimo para línguas faladas em Angola, Congo e Moçambique. A controvérsia perdura até hoje, momento em que a bebida já adquiriu centenas de outros nomes.


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