top of page

Sob protestos, ABL lança edição polêmica do Volp

Foto do escritor: Evandro DebocharaEvandro Debochara

RIO DE JANEIRO (Reuters) – A Academia Brasileira de Letras (ABL) acaba de lançar a 6ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Nos últimos anos, a Comissão de Lexicologia e Lexicografia da entidade vem ampliando seu leque de pesquisas, passando a rastrear novos vocábulos tanto em textos literários, científicos e jornalísticos quanto em tuítes, memes e posts de redes sociais. Por isso, desta vez a obra foi atualizada com o objetivo de oferecer uma edição antenada com a criatividade linguística dos falantes e também mais representativa para os mais diversos segmentos.


No entanto, apesar do grande número de novas entradas, a edição foi recebida com protestos de vários grupos e subgrupos identitários, como tuiteiros, tiktokers, instagrammers, gamers, k-popers, BBBzeiros, zillennials e militantes de diversas minorias e matizes políticas, que se queixaram da não inclusão de neologismos, aportuguesamentos e estrangeirismos consolidados em seus respectivos dialetos.


“Pprt, Volp sempre foi normie, tlg? Várias palavras hitaram e não estão lá. Mas old que não estão, né? Só tem bluepill na ABL. Gente nada based. Aqueles vocábules inserides são todes bem cheugy. Period”, tuitou a influencer Pammy Oliver para o perfil da ABL. A mensagem não foi respondida até agora porque a Comissão de Lexicologia – composta exclusivamente por boomers – alegou não ter entendido seu teor.


Curiosamente, não há queixas sobre a ausência de cringe. Segundo Renato Silva Júnior, linguista da Unisinos, isso se deu em virtude da estratégia utilizada pelas demais gerações: usar para destruir. “Quando as gerações mais velhas se apropriam de expressões dialetais das gerações mais novas, estas acabam abandonando esses usos”, observou. Assim, para a Geração Z, tornou-se cringe usar cringe.


A nova edição também se tornou arena de conflitos ideológicos. “A ABL quis lacrar com a militância inserindo ‘sororidade’, ‘feminicídio’ e ‘negacionismo’ no Volp enquanto ignora solenemente ‘vitimismo’, ‘mimimi’, ‘vachina’ e ‘ivermectina’, usados por todos os patriotas cidadãos de bem”, reclamou o blogueiro bolsonarista Romualdo Euflávio.


O fato é que, mesmo quanto à inserção de vocábulos que passaram a ser usados amplamente por toda a sociedade, o Volp decepcionou. Embora tenham sido registrados nesta nova edição neologismos e estrangeirismos surgidos com a pandemia – como ‘negacionismo’, ‘lockdown’ e ‘covid-19’ –, variantes como ‘alquingel’ e aportuguesamentos como ‘laive’ e ‘loquidal’, originados do isolamento social, ficaram de fora.


“É preciso entender que os aportuguesamentos não podem ser feitos sempre nem aleatoriamente, de qualquer jeito”, disse o presidente da ABL, Marco Lucchesi. “Há critérios e limites a serem obedecidos pela Lexicografia”. No entanto, tal justificativa foi logo questionada: “Vocês aceitaram ‘leiaute’ [layout], ‘estafe’ [staff], ‘lide’ [lead] e agora vêm com essa de critérios e limites? No Houaiss tem até ‘copirraite’! Enfim, a hipocrisia lexicográfica”, lamentou o internauta Valdisnei Escarpate.

0 comentário

Comments


©2021 por Paródia Editorial.

LOGO HORIZONTAL_BRANCO.png
Logo-gramatica.png
bottom of page