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ABL apura várias denúncias contra a Petrobras, entre elas o uso de acento em sigla

Foto do escritor: Evandro DebocharaEvandro Debochara

RIO JANEIRO (Reuters) – A Academia Brasileira de Letras (ABL) está apurando, junto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), oito processos abertos contra a Petrobras e pediu explicações à estatal sobre a acentuação da sigla, notada inclusive em vários tanques recentemente pichados com acento agudo no “a” (foto). No entanto, a presidência e o conselho da empresa alegaram que nada têm a ver com o fato, uma vez que esse acento é uma conhecida reivindicação de sindicalistas.


Apesar da grafia sem acento ter sido formalizada há décadas, há firme resistência contra isso até hoje por parte de vários setores – como os sindicalistas –, que sempre apontaram motivações ideológicas para a retirada do acento, como interesses neoliberais e internacionalização da empresa.


O presidente do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) esclarece que, ao contrário do que muita gente imagina, o siglema tinha originalmente acento, mas este foi removido por uma questão ideológica, e não ortográfica: “Desde a fundação da empresa, o nome era oficialmente acentuado, e isso ficava evidenciado nos próprios logotipos mais antigos da petroleira. E assim foi até 1995, quando, preocupados com a globalização da empresa, removeram oficialmente o acento, na mesma ocasião em que mudaram o logotipo. Mas muita gente continuou acentuando. O fato é que usar o acento se tornou um ato tanto ortográfico quanto de resistência política”, diz.


Após essa privatização gráfica nos anos 90, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) voltou a acentuar a sigla em fevereiro de 2002, em decisão conjunta com todos os sindicatos de petroleiros. De acordo com seu presidente, “a desacentuação foi um contrassenso, já que, por ser palavra oxítona terminada em ‘as’, conta com regra gramatical para ser acentuada”.


Na luta pela manutenção do acento, sindicalistas contaram com diversos apoios, do escritor João Ubaldo Ribeiro ao gramático Pasquale Cipro Neto, que em 1999 escreveu um artigo no jornal O Globo em defesa do acento na sigla. Segundo Pasquale, um dos motivos para a exclusão do acento fundamentava as alegações sobre os interesses exclusivamente externos da mudança: “Quem propôs essa correção argumenta que, lá fora, as pessoas confundem o acento com um apóstrofo e acham que está escrito Petrobra's, e em inglês esse ‘s’ precedido do apóstrofo indica a ideia de posse. Para um gringo, a coisa soaria como '‘o (ou da) Petrobra'”. E concluiu: “Se o nome da marca é escrito em português, nada justifica que sua grafia não respeite o padrão ortográfico da língua portuguesa”.


Sindicalistas evidenciam ainda mais os interesses privados da não acentuação ao lembrarem outro caso: vários anos após a retirada do acento, em dezembro de 2000, o então presidente da estatal, Henri Reichstul, propôs avançar ainda mais na “correção” do nome, alterando-o para Petrobrax, justificando dificuldades de compreensão por parte de estrangeiros. Uma das explicações dadas por Reichstul era que “bras“ significa “sutiãs” em inglês; outra era de que “bras” estaria, internamente, associado à ideia de “ineficiência estatal”. Trocar o s pelo x “facilitaria o processo de internacionalização”. Mas a proposta foi considerada abusiva demais dessa vez, e, após pressão e protestos, o então presidente FHC acabou vetando a mudança.


Diante da advertência da ABL de que siglas não devem ser acentuadas, sindicalistas rebateram que, em sua mais recente edição, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa passou a registrar “óvni” (siglema de “Objeto Voador Não Identificado”) com acento. A entidade então se justificou dizendo que essa sigla hoje em dia já se tornou substantivo comum, e que isso já ocorreu com outras siglas, hoje dicionarizadas, como “ibope”, “radar”, “laser” e “aids”. “Ora, e o que isso impede de nossa sigla ter acento? Que país é esse, em que se nega acento a uma oxítona terminada em ‘as’? Não satisfeitos em privatizar a estatal, querem privatizar até o português”, questionou o presidente da FUP.

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