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"Brasileiros herdaram o léxico dos índios e o falar dos nordestinos", diz candidato a vice


CAXIAS DO SUL (Reuters) – Candidato à vice-presidência da República na chapa do Partido Sociolinguista (PSL) nas Eleições de 2018, o polêmico linguista Marcos Bagno disse na última segunda-feira, 6, que é preciso sempre lembrar que o Brasil herdou não só a língua dos portugueses, mas também o léxico dos índios e o falar dos africanos. A bombástica declaração foi feita em um evento acadêmico promovido pela Universidade de Caxias do Sul (RS), quando Bagno falava sobre o preconceito linguístico existente no país:


“A herança do português é uma herança colonial. Mas não podemos nos esquecer da herança do léxico indígena. Nem do vocabulário e do falar africanos. Já repararam a imensidão de topônimos de origem tupi em nosso país? Foram dados pelos bandeirantes, que dominavam mais as línguas gerais do que o português, em suas incursões Brasil adentro. Quantos nomes de animais, frutos e vegetais em português vêm de idiomas indígenas? Incontáveis! Mesmo com a enorme repressão linguística da Coroa portuguesa na colônia, a influência de línguas ameríndias no português foi irresistível e extremamente significativa, estendendo-se inclusive ao dialeto caipira, que também teve influência do falar africano. Isso é notório, por exemplo, nas variantes de 'senhor': sinhôr, sinhô, siôr, siô. As tendências do nosso português em eliminar consoantes em final de palavra, como fazê, cantá e amô, bem como a de romper encontros consonantais com vogal, como flor/fulô, salvar/saravá, trem/terém, plantar/parantá, foram herdadas do quimbundo, uma língua africana. Então, esse é o nosso cadinho cultural. Tudo isso foi durante muito tempo minimizado e até mesmo negado, por razões ideológicas oriundas do racismo enraizado em nossa sociedade."


A polêmica declaração provocou escândalo e teve grande repercussão entre partidos e entidades, que reagiram furiosamente.


Por meio de nota, a Academia Brasileira de Letras (ABL) disse que repudia veementemente tal declaração, que incentiva o vale-tudo. Segundo a entidade, a fala do candidato a vice é leviana, tendenciosa, distorcida e criminosa, e deve ser investigada pelo Ministério Público Federal: "Tais declarações prestam um grande desserviço ao debate sobre o ensino de português e acabam até alimentando o preconceito linguístico de parcela da sociedade brasileira contra o português culto, historicamente injustiçado e massacrado em nosso país", diz a entidade na nota.


Por telefone, o presidente do Partido Parnasiano (PP), Coelho Neto, disse que o discurso do militante sociolinguista lembra um pouco algo de seu antigo desafeto Lima Barreto, e que ficar citando e superestimando essas variantes estigmatizadas pode surtir efeitos indesejáveis e irreversíveis, como dar status de correto ao vale-tudo.


Por meio de memes, o Movimento Belas-Letras (MBL) reagiu com sarcasmo à alegação da participação de índios e africanos na construção linguística do Brasil. Para essa ONG, "esse revisionismo linguístico é puro fake news".

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