Dá-se o nome concordância ideológica (também denominada figurada, irregular, semiótica ou silepse) à concordância que não é feita segundo as regras da gramática (concordância lógica), mas de acordo com a ideia de gênero, número ou pessoa expressa pelo sujeito histórico da oração. Assim, ela pode ser de três tipos:

1) Concordância ideológica de número – A concordância se faz com o número gramatical implícito. Exemplos: A família real só se importava com bailados;
Pelo Exército Vermelho, foram todos baleados.
(Leon Trotsky)
A dissidência protestava em zigue-zague E horas depois estavam presos num gulag. (Josef Stalin) À burguesia, Cuba deu seu perdão:
Fuzilados todos foram no paredão.
(Ernesto Che Guevara)
2) Concordância ideológica de gênero – A concordância é feita com o gênero gramatical subentendido. Exemplos:
Vossa Senhoria é alienado
Não passa de pau mandado
Passa o dia aquartelado
Tramando golpe de Estado.
(Carlos Lamarca)
Porto Alegre, outrora tão revolucionária,
Tinha tudo para ser a capital comunista.
Não passa agora de massa reacionária
Que só pensa nessa merda separatista.
(Luís Carlos Prestes)
Quem me dera Salvador fosse menos alienada...
(Carlos Marighella)
3) Concordância ideológica de pessoa – A concordância se dá pela pessoa gramatical implícita, conferida pela ideia de que o sujeito histórico também se inclui no discurso. Exemplos:
Os camaradas estamos alienados dos meios de produção.
(Vladimir Maiakovski)
Todos do partido bolchevique desejamos a revolução armada.
(Vladimir Lênin)
Os burgueses somos do Ocidente
Imos buscando as riquezas do Oriente.
(Luís de Camões em Os Lusíadas)
(GRAMSCI, Antonio. Gramática do cárcere. v. 6. Edição revista e ampliada com notas e comentários de Fidel Castro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p. 135)
Comments