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Psicólogo propõe termos polêmicos para definir comportamentos linguísticos hostis


O professor James Pierce durante palestra sobre seu novo livro em Washington (EUA)

WASHINGTON (Reuters) – Com o propósito de conceituar certos comportamentos humanos hostis em interações linguísticas, recentemente o psicólogo norte-americano James Pierce propôs intitulá-los com base em expressões já consagradas e usadas para definir outras formas de abuso e manipulação. Nos últimos anos, o pesquisador vem adquirindo certa fama por caminhos alheios à carreira universitária e busca alguma originalidade, mas suas ideias não são bem aceitas pela comunidade acadêmica. Em seu livro Abuso e manipulação pela gramática, recém-lançado no Brasil pela Parody Publishers, o psicólogo apresenta três novos termos – todos de sua autoria – para descrever práticas sociais existentes desde o advento da linguagem entre as primeiras civilizações, mas até hoje sem palavras que as identificassem: grammarlighting, grammarplaining e grammarterrupting. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Segundo Pierce, grammarlighting é o abuso que ocorre quando alguém pedante ou intelectualmente desonesto contesta fatos linguísticos e distorce ou inventa normas gramaticais com o objetivo de fazer seu interlocutor duvidar de sua cultura e conhecimento, sua memória e percepção como usuário da língua. Numa conversa, o abusador faz seu interlocutor achar que não conhece a própria língua ou que está equivocado sobre uma questão gramatical – quando na verdade está certo. Alguns exemplos: “Você não conhece a forma correta”; “Você não sabe bem Português”; “Ninguém fala assim”; vEssa palavra não existe”, “Você não faz ideia de como se escreve / se fala”; “É errado e ponto final”. Pierce afirma que gramatopatas são experts em grammarlighting: vivem alardeando regras sem fundamentação, evitando esclarecimentos ou ignorando solenemente lições mais atualizadas; no entanto, como se mostram convincentes e seguros ao afirmarem suas lorotas, invencionices e distorções gramaticais, suas vítimas acabam duvidando de seu próprio conhecimento, aceitando e – pior ainda – passando a reproduzir desinformação gramatical. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Já o segundo termo, grammarplaining, serve para descrever a prática que ocorre quando alguém desperdiça seu tempo – e o dos outros – para explicar uma lição gramatical óbvia para seu interlocutor, como se este já não soubesse dela. Nesse cenário, o sujeito sempre acha que sabe muito mais que seus interlocutores e que precisa “ensiná-los”. Na maioria das vezes, as explicações são pretensiosas, arrogantes e vaidosas, tentando impressionar e iludir quem ouve o pernóstico.

O terceiro conceito, grammarterrupting, foi usado pela primeira vez por Pierce em um artigo de sua autoria para a revista Time e descreve o que ocorre quando alguém interrompe repentinamente outra pessoa, de maneira inconveniente e desnecessária, apenas para fazer uma correção gramatical em sua fala, impedindo que ela prossiga de forma fluida com seu raciocínio ou mesmo comprometendo a atenção dos envolvidos àquele momento da ideia ou argumentação. Geralmente a pessoa suspende bruscamente o assunto para corrigir algo que, quando não é miudeza ou detalhe totalmente dispensável, poderia ser observado posterior e discretamente, de forma cortês, sem nenhuma necessidade de chamar a atenção publicamente nem de constranger ninguém. Diante da repercussão, tanto a comunidade acadêmica quanto o público se dividiram: enquanto muitos não veem problema, outros enxergam a ideia como pura paródia oportunista: “É um desserviço”, disse a psicóloga Louise Vieira. “Pra que parodiar conceitos que definem problemas tão sérios quando já existem outros termos que suprem e satisfazem essas ideias, como, sei lá, ‘grammar nazi’, ‘pedantismo’? Quem sabe não é mais prático adaptar tudo isso como ‘assédio textual’, ‘oral’ ou ‘linguístico’, talvez? No Brasil, já temos ‘cagação de regra’. Enfim, só podia ser invenção de homem branco mesmo”. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Já o motorista de aplicativo Orlando Silva se diz acolhido e está entusiasmado com os conceitos: “Só espero que essas ideias gringas vinguem logo por aqui, porque não vejo a hora de denunciar uns gramatopatas que volta e meia me assediam”, desabafou. “Outro dia um cliente com pressa ficou me enchendo o saco, só porque mandei mensagem dizendo ‘chego urgente aí na tua casa’. Ele respondeu que eu só podia ‘chegar À casa dele’ e ‘urgentemente’. Essa gente precisa tomar um banho de realidade... e uns processos também”.



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