
BRASÍLIA (Reuters) – Uma pesquisa divulgada hoje pela Universidade de Brasília (UnB) constatou um fenômeno morfológico inédito na história do português brasileiro: ao contrário do que já ocorreu com vários verbos outrora defectivos – agir, compelir, discernir, emergir, imergir, fruir, polir, prazer – que, com o passar do tempo, passaram a ser conjugados integralmente, o verbo “vacinar”, que até poucos anos atrás vinha sendo conjugado por toda a sociedade, foi gradativamente se tornando defectivo, não apresentando mais todas as formas flexionais do paradigma a que pertence. Segundo a linguista responsável pelo trabalho, Letícia Sallorenzo, tanto na língua falada quanto na escrita, o verbo deixou definitivamente de ser conjugado por terceiras pessoas do singular e do plural, que se tornaram negacionistas, reagindo com advérbio de negação perante o próprio direito de conjugar de forma pronominal e reflexiva – vacinar-se. Diante da vindoura campanha de imunização da população, assim se apresenta atualmente a conjugação do verbo, conforme levantamento feito pelo estudo:
Eu (me) vacinarei
Tu (te) vacinarás
ELE NÃO
Nós (nos) vacinaremos
Vós (vos) vacinareis
ELES NÃO
Ainda de acordo com a pesquisadora, além do alto índice de analfabetismo funcional – condição que resulta, entre outros, na incapacidade de distinguir fato de opinião e diferenciar ciência de meme ou tuíte –, contribuiu para a consolidação dessa defectividade o movimento antivacina, que conta com a influência e o apoio de uma terceira pessoa do singular invariavelmente acompanhada de advérbio negacionista – o atual presidente da República. “Inspirado pelo mentor de uma pedagogia defectiva, o presidente aproveitou a oportunidade de instituir uma gramática manipuladora e excludente, que alienou de terceiras pessoas o seu próprio direito de conjugar”, lamentou a linguista.
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